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A auto-sabotagem e o controle ilusório que ela traz

Sentimentos

Em um relacionamento sério (comigo mesma)

Eu me perdi

25nov

Eu tenho me sentido muito sozinha. Uma solidão massante, esmagadora, que aperta o peito num vácuo absoluto. Um vácuo figurativo mas que nada escapa.

Eu nunca entendi como eu posso me sentir assim estando sempre rodeada de gente. Tenho muitos amigos. Sou até zoada por isso as vezes, de forma positiva até.

“Aii a suelen é sagitariana raiz, faz amigos com muita facilidade, é cheia das amizade”, “muito a mãezona que quer juntar vários grupos num grupão só, adora essa salada de gente”.

Sempre fui assim. Então como que é isso, de uma pessoa como essa, se sentir sozinha?

As amizades são falsas? Não. Já foi muito iludida mas ja aprendeu a separar o autêntico do passageiro. As amizades são reais e são lindas.

Os relacionamentos são rasos? Não. Todos foram intensos. O atual é real. O amor existe, tem companheirismo, tem esforço pra dar certo e construir um futuro.

A família é distante? Não. Quem importa ta sempre por perto, na verdade chega a sufocar as vezes.

Então que solidão é essa quando se está rodeado de atenção? De companheirismo?

Depois de muito bater cabeça com essa pergunta, eu entendi. A solidão não vinha de fora. Vinha de dentro.

Eu me perdi de mim.

Eu to sozinha aqui dentro.

Eu sempre fui de muitas amizades sim, mas mais ainda sempre me bastei em tudo. Nunca gostei de depender de ninguém pra nada. Trabalho, estudos, viagens, sempre fiquei mais confortável sozinha. Decidindo tudo por mim e pra mim e não tendo ninguém que dependesse de mim de mim também.  Batendo no peito pra dizer “eu fiz isso sozinha, não preciso de ninguém” a sensação era muito boa. Eu sentia que podia dominar o mundo a hora que eu quisesse, que não precisaria esperar ninguém pra isso, porque eu sempre queria tudo pra já. Eu era assim.

Até que eu me perdi.

Não faço ideia do meu paradeiro atualmente. Olho no espelho e não me vejo mais. Vejo uma casca, familiar, com um certo “quê” de deja vu. Uma coisa meio uncanny valley. Mas eu não to mais ali.

E eu nem sei desde quando. Não consigo me lembrar quando comecei a me esvair.

Foi muito sutil, foi com o tempo.

E perceber isso foi como nos filmes. Quando um personagem recebe uma ligação de alguma autoridade falando que alguém desapareceu. Aquela sensação de peso descendo a garganta arrastando as entranhas junto mas sem chegar a rasgar. Alguém que significasse o mundo pra aquela pessoa desapareceu. Um filho, um marido, uma mãe. Mas era eu mesma.

Eu sumi.

E eu não sei nem onde procurar ou sequer se adianta procurar.

Se eu vou me encontrar de novo um dia.

Porque que habilidades uma casca, vazia e simples, frágil, absurdamente quebradiça, poderia ter pra isso? Porque é exatamente assim que eu me sinto.

Eu to rodeada de gente. Pessoas que me amam, e que se preocupam comigo, e eu me preocupo com elas também. To rodeada de coisas. Que eu usava, que eu pretendo usar um dia, que eu não quero mais usar porque ja não me identifico. Ou talvez eu – a casca – não se identifique.

Eu me sinto sufocada na bagunça que eu mesma criei, e a única pessoa que pode mudar isso sou eu mesma. Mas eu não to mais aqui.

Então eu permaneço imóvel, vendo tudo acontecer, esperando sem saber que eu magicamente volte pra mim.

Esperando. Apática, sem ver sentido em nada. Nada faz sentido na minha vida se eu não estiver aqui pra fazer ela andar. Eu to no banco do passageiro de um carro parado no acostamento, sem motorista. E eu não sei dirigir.

Eu não faço ideia de onde eu possa estar.

E eu nunca senti tanto a falta de alguém na minha vida quanto eu to sentindo de me ter agora.

Por que eu me abandonei?

E pra onde eu fui?

Suelen Cosli

A auto-sabotagem e o controle ilusório que ela traz

30jun

Esse final de semana saí da minha cidade em um avião pela segunda vez nesse ano. É engraçado como pisar em um aeroporto me deixa reflexiva sobre tudo que tá acontecendo na minha vida em dado momento. E foi irônico, porque da mesma forma que eu estive no dia anterior no consultório da minha psicóloga, chorando muito dizendo como me sentia sozinha… No dia seguinte, estava vibrando de felicidade em estar viajando, em especial, sozinha. Estar nas nuvens, mesmo que por um período tão pequeno, foi uma sensação tão familiar e ao mesmo tempo me surpreendeu ao ponto de eu sentar pra escrever esse post hoje, em cima da ironia desses dois extremos do mesmo estado; o estar sozinho. E por quê?

Temos medo do desamparo ou de reconhecer quem somos na forma mais crua, quando não tem ninguém por perto? Ou talvez os dois?

Então… Eu fui pra Parintins mais uma vez esse ano. Sinceramente, além de feliz, fiquei surpresa. Porque devido a todos os últimos acontecimentos na minha vida, que de uma forma ou de outra me frearam tanto a ponto de eu sentir que estava indo pra trás, eu sentia que “não merecia” estar indo.

Pensando nesse termo, “ir para trás”, brinquei pensando que de certa forma isso nem deveria ser algo ruim… Já que eu costumava ter um controle melhor da minha condição psicológica no passado.

Exceto que eu estava literalmente andando pra trás, sem saber se iria pisar em falso e me machucar, mas sentindo que era isso que ia acontecer e que era inevitável. Afinal era melhor que eu mesma caísse, do que ter outra pessoa me empurrando. Uma sensação de controle…?

No ano passado, eu redescobri o que era estar sozinha. Que a palavra em si tem uma carga pesada, mas conforme percebi, desmerecida.

Ainda sobre o ano passado, se teve algo que eu aprendi foi que o “estar sozinho” acaba sendo diferente da solidão, apesar do dicionário não diferir o sentido dos termos. Na teoria, são a mesma coisa. A prática nós temos que viver pra assimilar.

Eu tenho momentos em que sinto uma solidão profunda. Sufocante. Uma sensação de desamparo mesmo estando rodeada de pessoas que me amam. A realidade é que, e isso me veio através da terapia, eu tenho uma tendência grave e ao mesmo tempo comum de me auto-sabotar, na tentativa de me dar a ilusão de que tenho controle absoluto sobre tudo ao meu redor.

Afinal, ninguém vai conseguir me machucar se eu fizer isso primeiro… Não é?

Pois é. Uma falsa sensação de controle.

Minha psicóloga indagou quando chegamos nesse ponto:

“E se, ao invés de chegar na frente pra se machucar antes que alguém mais o faça… Porque não chegar na frente e fazer o seu melhor, antes que alguém tenha a chance de atrapalhar?”

Parece simples o bastante. Porque é. Mas a gente custa a absorver, não é?

No ano passado tive essa reflexão em como era bom estar sozinha. Em se bastar mesmo estando na frente de um computador num quarto escuro, numa madrugada de Domingo. Porque no final do dia, a única coisa imutável é que eu me tenho. Eu me tenho pro resto da minha vida. O que vier além de mim, pode ser lucro ou despesa. E ambos podem ir e vir a qualquer momento, e é preciso aprender a aceitar que não tenho controle nenhum sobre outras pessoas, seja ele um controle ilusório ou verdadeiro. Aprender a lidar com isso e apesar disso, é um processo longo mas completamente possível. Perder companhias, oportunidades, flores e sensações, é tudo muito difícil e talvez nunca deixe de ser. Não tenho controle sobre isso.

Mas ninguém pode me tirar de mim.

Tem pensamento mais reconfortante do que esse?

 

Suelen Cosli