Sabe aquele livro que te fisga pela capa? Pois é. Não foi meu caso. Mas poderia ter sido, se antes mesmo de eu ver essa capa linda pela primeira vez eu já não tivesse recebido tantos comentários com “caraca, você parece muito com a Eleanor de Eleanor & Park”.
Fui pesquisar na primeira vez e, gente, que alegria que bateu <3 claro que como ainda não foi pras telonas tudo que achei foram fanarts, mas me identifiquei TANTO. E nem só pela gordicinha ou sardas ou cabelo ruivo, mas pelas citações do livro que achei junto dos fanarts. Não sou muito fã de romances, a não ser que tenham uma intensidade épica e sejam bem escritos. E Rainbow Rowell fez isso com maestria.
Não é nenhuma crônica fantástica de ficção. Não se trata de um romance secular, nem tem mortes e mistérios ou vilões e dragões. É melhor ainda. É um romance intenso inserido no cotidiano, que poderia ser o meu, ou o seu, com todo o sentimento e emoção envolvidos que só estando no meio pra sentir. Isso é, até ler Eleanor & Park. Que nos dá tudo isso na pele sem sequer termos de passar por isso de verdade. E foi isso que o livro me passou. A sensação de me apaixonar de novo pela primeira vez, sem sequer precisar haver alguém pra ser o alvo desse sentimento “novo”. Porque não era preciso. Eleanor e Park já faziam isso por mim.
A forma como o livro vai levando o dia-a-dia foi o que eu mais gostei. Nada é apressado, mas também não tem nenhum tipo de enrolação, o ritmo foi perfeitinho desde “a novata esquisita que sentou do meu lado no ônibus” pra “eu não gosto de você, eu preciso de você”, equilibrando ainda ambos os pontos de vista sem perder o fio da meada.
Os personagens tinham um histórico, nenhum estava ali por acaso, e no final acabaram por mostrar profundidade. Não haviam vilões de verdade nos vilões óbvios como o início chegou a sugerir, com os clássicos valentões da escola. Apenas adolescentes cheios de hormônios mas acima de tudo, mostrando serem humanos (da maneira deles, né) lá no final, quando ajudaram a esconder a Eleanor. O verdadeiro vilão, que foi o padastro da persoagem, esse sim teve o perfil pra angustiar de verdade quem o lesse. Especialmente quem tem problemas familiares parecidos com os dela. (Eu colocaria um TW no livro inclusive. Mexeu um pouco comigo de uma maneira desagradável.) Eu também me revoltei mas, infelizmente, uma família numa situação abusiva não se resolve na bronca. Se eu soubesse como se resolvesse, juro que diria. Felizmente o Park tava ali pra mantê-la inteira, por mais que ele não tenha conseguido protegê-la até o fim, mas gente; são adolescentes. E é verdade, na visão de um adolescente que ainda não passou por tanta coisa na vida (porque ainda não deu tempo disso), tem muita coisa pequena que acaba se tornando algo grande, e eu acho insensível diminuir isso. Até porque todos já estivemos ali.
É aí que entra a nuance obsessiva do relacionamento deles. Algo novo tende a nos deixar obcecados, é verdade, mas quando o objeto da obsessão é outra pessoa também obcecada, o negócio pega fogo. Toma uma forma diferente, maior, que importa. Um tipo de luz no fim do túnel. Vi muita gente criticar a dependência dos dois um no outro, mas cara. É preciso se pôr no lugar pra poder sequer começar a julgar.
Uma coisa que me irritou (e não foi no livro, mas nos leitores) foram os justiceiros. Não dá pra dizer “No lugar da Eleanor, eu já tinha ido na polícia denunciar o padastro, já tinha tirado a mãe dali, blablabla ela foi muito lerda nesse aspecto, nem parece que se importa de verdade” não dá, apenas não dá. Poderíamos encarar a situação de forma diferente sim, afinal cada cabeça uma sentença, mas cara, não é assim tão simples. Abuso doméstico é real, ta aí, rolando por debaixo dos panos de várias casas, e nós não fazemos ideia do quanto. Não tem como a gente saber. Logo é muito difícil calçar os sapatos dessas pessoas por inteiro, pois não servem em você. Por não serem seus. Então nada de bancar o super-homem com os problemas alheios, ok? E sobre dizer que ela não parecia se importar de verdade com a situação da mãe. How dare you.
Foi mostrado também como o machismo é destrutivo. Como quase destruiu a Eleanor, literalmente, quando o padastro cego e alienado pela visão de que a afilhada não passava de um pedaço de carne inútil (é só lembrar dos recadinhos carinhosos que ele deixava pra ela) chegou a expulsá-la de casa, da proteção da própria mãe, que ficou a mercê da loucura daquele homem na sua ausência. E ainda tem gente que prega que eu sou maluca por abominar esse pensamento. Vai entender onde foi parar a empatia e humanidade dessas pessoas.
Apesar do final ter me frustrado MUITO, ainda tenho esperança de que as três palavras finais da Eleanor eram “I’m Han Solo”, significando na minha cabecinha esperançosa que eles iriam voltar a se encontrar. Dá uma trela, Rainbow, por favorzinho.
E por fim, quero descrever o livro da mesma forma que Park descreveu a Eleanor, porque acho que serviu perfeitamente;
Era como uma obra de arte, e arte não deve ter boa aparência, mas sim fazer a gente sentir alguma coisa.
Nunca escrevi uma resenha por livre e espontânea vontade na vida, nem sei se fiz certo, só sei que me apaixonei por esse livro, e quis fazer, e fiz. Beijas!